terça-feira, 6 de abril de 2010

História: Os tratores e a indústria de automóveis


- Ferruccio Lamborghini não começou a carreira como construtor de supercarros. Seu primeiro sucesso veio em forma de tratores e máquinas agrícolas. Com a primavera dando as caras no hemisfério norte, os fazendeiros de todos os cantos tiram seus John Deere e Internationals do celeiro para começar a plantação. Por isso imaginamos que seria uma boa hora para dar uma olhada na história dos tratores feitos pelos fabricantes de automóveis.

- No começo do século XX, carros e tratores não poderiam estar mais distantes em design. Quando os carros já estavam decidindo qual tipo de motor usariam - vapor, elétrico ou combustão interna - os tratores ainda eram movidos a vapor desde o final do século XIX. Mais ou menos como locomotivas a vapor sobre rodas, eles eram enormes, caros e quentes. Eram máquinas perigosas que precisavam do trabalho de muitos homens para abastecer e operar, e eles não eram exatamente potentes.

- Quando os fabricantes de automóveis começaram a optar pelo motor de combustão interna como o caminho a seguir, eles também estavam de olho no mercado agrícola. Havia muitas terras a serem colonizadas e muito dinheiro para ganhar com essas máquinas. Os motores a gasolina desenvolvidos para os carros poderiam ser reajustados para trabalhos mais pesados e vendidos a fazendeiros, e assim foi feito. Aqui estão alguns exemplos de tratores feitos pelos fabricantes de carros e eventualmente, fabricantes de tratores que passaram a fazer carros.


Tratores Ford

- Um dos primeiros fabricantes de tratores a gasolina foi a Ford, que iniciou a produção dos tratores modelo F em 1912, usando o nome Fordson e adotando os métodos de produção em massa que já eram aplicados aos automóveis da marca. Foi o primeiro trator leve produzido em grande escala. A marca foi incorporada à Ford Motor Company e continuou crescendo ao longo dos anos. Em 1939 foi lançado o 9N, que se tornou o padrão para a maioria dos tratores modernos. Tinha pneus de borracha, o atualmente onipresente sistema de reboque de três pontos e eixo cardã, além de facilidade de acesso a todos os pontos de operação. A Ford ainda produziria modelos aclamados como o 8N e em 1984, adquiriu a Sperry-Holland Tractors, formando a Ford New Holland. A empresa foi vendida à Fiat em 1991. Desde 2000 o nome Ford não é mais vinculado a tratores.

 
 
Tratores Samson - GM

- Em 1917 a General Motors adquiriu a Samson Sieve-Grip Tractor Company, de Stockton, Califórnia e planejou uma linha de carros e caminhões para ser produzida com os tratores. A ideia inicial foi uma espécie de van, projetada para transportar nove passageiros, com bancos removíveis para transportar cargas, mas nunca foi comercializada. Uma série de protótipos de tratores foi produzida, incluindo este da foto abaixo, que teve duas unidades produzidas na fábrica de caminhões da Pontiac. O Modelo M, mais refinado, foi produzido em 1919, mas era extremamente caro em comparação ao concorrente da Ford. O modelo "Iron Horse" foi produzido no mesmo ano, movido por um quatro-cilindros da série 490, que era controlado pelo operador que ia caminhando atrás da máquina, como se estivesse conduzindo um cavalo. Esse design permitia que o fazendeiros acoplassem seu próprio equipamento, mas também foi um erro. No final a GM perdeu 33 milhões e a divisão encerrou as atividades em 1923.

 

Minneapolis Moline UDLX

- A Minneapolis Moline era uma fabricante de tratores firmada no mercado quando decidiu entrar no mercado automotivo, em 1938. Com o modelo UDLX Comfortractor, a intenção era combinar os atributos de um carro a um trator, o que fazia algum sentido econômico, considerando que foi lançado quase no fim da Grande Depressão. O UDLX tinha a primeira cabine totalmente fechada em um trator, tinha aquecedor, janelas de abrir, acendedor de cigarros e um banco do passageiro. A velocidade máxima de 72 km/h tornava-o perfeitamente razoável para ser usado como um carro. Infelizmente o alto preço limitou as vendas e o modelo só vendeu 150 unidades.  

 
 
 Tratores Lamborghini

- Ferruccio Lamborghini não começou a carreira como construtor de supercarros. Seu primeiro sucesso veio em forma de tratores e máquinas agrícolas. Logo depois da Segunda Guerra Mundial, Lamborghini começou a montar tratores com o equipamento excedente da guerra. Em 1948 ele fundou a Lamborghini Trattori S.p.A. em sua garagem. Seu primeiro modelo foi o Carioca, e mesmo não sendo uma máquina atraente, ajudou a impulsionar a Lamborghini ao posto de maior companhia agrícola da Itália. Foi somente depois de sucessivas experiências decepcionantes com os carros de Enzo Ferrari que Ferruccio decidiu que iria construir carros melhores. Após uma sucessão de contratempos no final dos aos 70, quando a empresa teve problemas financeiros, a Trattoria foi vendida à rival SAME, embora ainda sejam vendidos com a mesma marca. 

 

 Tratores Porsche

- Ferdinand Porsche foi um homem com muitos interesses e talentos. Enquanto estava envolvido no desenvolvimento do Fusca, ele também mantinha seu projeto de um trator popular. O Volkstraktor, se você preferir. Muitos protótipos foram produzidos em 1934 com um motor diesel refrigerado a ar. Claro, algo estava acontecendo na Alemanha naquela época e isso o levou a arquivar o projeto. Depois daquela pequena discussão várias companhias licenciaram os projetos do motor, mas a Mannesmann AG decidiu licenciar o trator Porsche completo e iniciou a produção em 1956. Entre 1956 e 1963, quando a licença expirou, mais de 125 mil tratores Porsche haviam sido produzidos, todos compactos, de projeto simples que estavam pelos mais variados terrenos da Europa. 

 

Tratores CO-OP

- Em 1922 o congresso americano aprovou a Capper-Volstead Act, que permitiu aos fazendeiros e rancheiros a legalização de trabalharem em grupos para benefício mútuo, e serviu para a criação da cooperativa Farm Bureau, que agiu em benefício dos fazendeiros para aprimorar e estudar os métodos de trabalho no campo. Quando a mecanização do campo começou, decidiram desenvolver um trator para beneficiar os cooperados. Em 1935 a Farm Bureau firmou um acordo com a Parret Tractor Company para produzir uma máquina que suprisse a necessidade dos fazendeiros cooperados. O primeiro modelo era débil e com potência subdimensionada, então instalaram um motor e caixa Chrysler. Ao longo das várias gerações o trator passou a usar a marca CO-OP e regularmente tinha o motor Chrysler de quatro litros e seis cilindros.
 
 

Tratores Fiat

- A Fiat é um enorme conglomerado com tentáculos em todas os tipos de indústria. Nos EUA a Fiat é tida como a chefe italiana da Chrysler, mas esta é só a divisão de carros. A Fiat está no ramo dos tratores há muito tempo, operando no mercado da agricultura desde 1919 e é a segunda maior do segmento, atrás apenas do enorme gorila que é a John Deere. Ela carregou marcas como a New Holland (que inclui a Versatile e Ford Tratores) e a Case (que é formada pela Case, International, Farmall e outras). Se você nunca ouviu falar nos tratores Fiat, você provavelmente mora na América, onde não há tratores vendidos sob a marca Fiat.



Trator Citroën

- Citroën? Sim, esses franceses fizeram um trator também. Só um, e era bem pequeno. O trator da Citroën pesava apenas 800kg e era movido por um motor de quatro cilindros e 12 cv, muito semelhante ao motor do Citroën modelo A. Foi comercializado inicialmente como um trator para hortas e pomares e vendeu cerca de 500 unidades durante seus dois anos de produção. A empresa trabalhou a ideia de produzir semi-esteiras, mas nada chegou ao mercado. Mas veja como é bonitinho esse pequeno trator.   

 
 
 Tratores Mitsubishi

- A Mitsubishi é outro daqueles enormes conglomerados que produzem tratores como regra. Em operação desde 1980, a Mitsubishi comercializa seus produtos nos segmentos de tratores compactos e utilitários. A maioria dos tratores Mitsubishi é vendida na Ásia, onde as fazendas tendem a ser menores.

 
 
 International Harvester

- A International é outro caso de fabricante de tratores que foram para o setor de automóveis. Apesar de produzir caminhões pesados, a produção de carros da International resume-se em somente um veículo, o International Scout. Sendo um dos mais adorados SUVs de todos os tempos, o Scout foi construído para competir com os Jeeps, e conseguiu com sucesso com um projeto simples, robusto e resistente. O estilo do Scout variou muito pouco durante toda sua produção, que ocorreu entre 1961 e 1980, mas ele teve uma grande variedade de carrocerias e motores, atingindo vários nichos do segmento. A produção do Scout foi encerrada quando a International Harvester foi comprada pela Case, mas você ainda encontra um grande número deles trilhando os EUA.



Renault

- A Renault iniciou a sua atividade fabril automobilística em 1898 e começou dez anos depois a construir tratores. Desenvolveu para o setor máquinas de arrasto contínuo e tração nas 4 rodas, todas de aplicação ao exército francês, por ocasião da 1ª Grande Guerra. Depois da Guerra, converteu para a agricultura o seu arsenal de máquinas, melhorando constantemente os modelos, que passaram a ser equipados, a partir de 1931, com motores diesel de 4 cilindros, 4,36 litros de cilindrada e 45 cv - como exemplo, o modelo Renault VY, o primeiro trator à diesel construído na França e o primeiro a ser equipado com tomada de força de 87rpm.



- A Renault, então a maior fabricante francesa de tratores agrícolas, é nacionalizada em 1945 e a produção passa a ser incrementada com novas séries de tratores, atingindo no bienio 1947-48 a soma de 7.500 unidades. A partir de 1951, os modelos Renault passam a ser equipados com motores Perkins. Em 1956 é lançada no mercado a nova série “D”, que culminou com o modelo Super D, equipado com o inovador hidráulico TractorControl. Em 1960, a fábrica ja havia fabricado 138 mil veículos.

- Os tratores Renault, que agora pertencem à alemã Claas, têm ultimamente mantido ligações com a John Deere no que diz respeito à construção de certos componentes. Na França, a Renault divide com a Massey-Ferguson uma estrutura fabril de projetos e produção conhecida por GIMA. A Renault tem ocupado nos último anos a primeira posição nas vendas do exigente mercado francês.



Ferguson


(Texto e Fotos retirados do blog Auto Entusiastas - Postagem de 14 de Fevereiro de 2011)




- O sistema Ferguson de engate de três pontos é conhecido (e presente) no mundo todo, principalmente após a guerra judicial entre a Ferguson e a Ford pela patente e uso do sistema. Porém Harry Ferguson não ficou somente atrás das máquinas do campo.

- Ao se pesquisar um pouco sobre as origens da tração nas quatro rodas para carros modernos, com diferenciais viscosos, e sem os pesados diferenciais de pares cônicos coroa-pinhão dentro de uma caixa de transferência, sempre se chega ao sistema de nome Ferguson Formula. O primeiro carro com o sistema foi batizado de Ferguson R4 e foi mostrado ao mundo em 1954, pela empresa que se chamava na época Massey-Harris-Ferguson.

- Harry Ferguson era um industrial escocês fabricante de tratores, que não era de brincadeira. Em 1952 ele venceu a Ford Motor Company nos tribunais, com ações sobre os direitos de algumas patentes de sistemas de tomada de força e de reboque de implementos agrícolas para tratores, que inclusive se chamavan Ford-Ferguson, em um negócio que durou de 1938 a 1946. Como a Ford finalizou a associação e continuou usando os sistemas, Harry teve a grande sorte de ganhar a causa. O valor que ele embolsou foi de US$ 9,25 milhões, uma tremenda fortuna naquele tempo.

- No ano seguinte, aproveitou esse caixa recheado para fundir sua empresa com o concorrente canadense Massey Harris, formando a empresa que desenvolveu o carro com tração nas quatro rodas.

- Essa fusão deu a Harry US$ 16 milhões em ações, que ele, mesmo na idade de 66 anos, não utilizou para financiar sua aposentadoria. Através de uma nova divisão de sua empresa, que batizou de Harry Ferguson Research (pesquisas), colocou seus conhecimentos e de seus engenheiros para trabalhar, além de contratar o piloto de corridas Tony Rolt e os ex-projetista da Aston Martin, Claude Hill.

- Pouco mais de um ano depois, mostrou um carro que, mesmo sendo totalmente sem graça em termos de estilo, era o mais tecnicamente avançado em existência.

- Nascia o sistema Ferguson Formula, que foi sendo desenvolvido em sucessivos protótipos e modelos que pode-se considerar feitos sob encomenda, mas que só chegou à produção normal, ainda que em pequeno número, no  Jensen FF, um dos mais belos carros de todos os tempos e, dizem, inspirado no Brasinca  4200 GT/Uirapuru.

- Como se não bastasse a tração em todas as rodas, que evitava problemas por mais que o motorista abusasse, Harry Ferguson foi mais além, e junto com a Dunlop, adicionou o primeiro sistema ABS para eliminar o travamento de rodas em frenagens. O nome dessa maravilha da tecnologia britânica: Maxaret.

- Assim, esse rombudo sedã sem graça, com um simplório motor de quatro cilindros de 2,2 litros, é hoje um dos carros mais importantes da história, um vovô que merece respeito e admiração de todos os Subarus, Audis, Mitsubishi Evos, Porsches Turbo e dezenas de outras máquinas fabulosas que só conseguem colocar boa parte de sua potência no solo porque um fabricante de tratores não quis pegar seus milhões e ir pescar.


- Todos os demais textos e fotos foram retirados do site JALOPNIK com algumas alterações.